É interessante como, às vezes, pequenas coisas nos remetem a elucubrações antes impensadas. Algo eminentemente corriqueiro age como um botão para ativar ou ligar um pensamento. Dias atrás, deparei-me com mensagem pessoal de uma amiga na internet: “A mais perfeita sintonia, a mais estranha melodia”. Se complementada, “Dois lados de uma mesma história e uma pergunta sem resposta”, teríamos a estrofe completa do pensamento do poeta.
Defino eu que todo poeta é também um filósofo. Não acho a recíproca verdadeira. Como não sou doutor no assunto, nem em poesia e nem em filosofia, tenho a liberdade de definir ao meu bel prazer. Não devo satisfações a nenhuma organização responsável pelas definições. Defino como quero e pronto! Mas, voltando à essência, a estrofe do poeta me fez parar para pensar. Ela é dualística ou dicotômica? Pesquisei à beça. Não cheguei a nenhuma conclusão satisfatória. Ao final, pouco me importaram os devaneios de Aristóteles, Sócrates, Descartes ou mesmo de Thomas Hyde. Preferi a definição dualística do poeta, que a dos filósofos:
Dualismo
Rosa De Saron
Tudo passa e os dias se estendem
Esperanças correm pelo chão
Dualismo eterno em nossa mente
O certo e o errado, o sim e o não
Atrás de tudo há sempre uma outra visão
Um beco estreito ou um vale numa imensidão
Um choro fraco mostra um momento de dor
Ou muitas vezes a esperança de um grande amor
Sentimentos fortes se misturam
As certezas perdem a razão
Nossos olhos falam mil palavras
E frases nunca mostram o coração
Virar a face para muitos é sair do chão
E que ser forte é fazer justiça com as mãos
Mas há loucuras que não esqueci jamais
Que compaixão, perdão me trouxe a paz
Do que é Deus
Poucos vêem
Pra viver
Pense nesse caos também
Opostos que se intercalam
Para sempre coexistirão
Geralmente é a dor que nos ensina
Que o momento bom não é em vão
Por muito tempo só admitia o sim
Mas foi o não que trouxe
Forças pra junto de mim
Eu vou sair do chão, pois não quero mais
A razão de frases feitas, que não satisfaz
A beleza da vida reside nessas angustiantes dicotomias e na nossa dualidade. Somos bons e maus. Bonitos e feios. Ternos e brutos. Amamos e odiamos. Somos opostos de nós mesmos. Podemos chorar hoje, rir amanhã. Podemos querer sal grosso hoje e travesseiro amanhã. No fundo, nossos pensamentos pululam de questionamentos. Quase sempre, sem respostas. Se não as temos, vamos procurá-las. A curiosidade e a sede de saber são combustíveis indispensáveis. Interrogações são pontos de partida. Respostas são de chegada. Somos lados de uma mesma moeda. Às vezes escondemos um ou ambos. A sintonia nem sempre é perfeita, mas a melodia não pode ser estranha. Que haja ruídos na sintonia, mas que a melodia seja ouvida. Que seus acordes sejam sinfônicos, pois nós somos eternos merecedores do melhor de nós mesmos.
Martins
01/11/08
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