segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Poder e Despoder

Fui buscar na internet as várias definições do Poder. Não do verbo, mas do substantivo. Fiquei embasbacado. Tem Poder pra tudo. Pra todo gosto. Existe Poder que eu sequer imaginava. Poder das emoções, virtual, dos cidadãos, pessoal, até da ignorância, do mito, da oração, da mensagem, dos cristais, do riso, dos feronômios, da liderança, da mente, das frutas, da religião, do consumidor, do fogo, do livro, da música, do agora, da palavra, da mídia, do povo, de Deus. É Poder que não acaba mais. Acho, até mesmo, que existe mais Poder que Despoder.

Penso, às vezes, que o homem na sua ânsia de ter as rédeas na mão, só pensa no substantivo e esquece o verbo. A grande sacada, no entendimento do homem, não é “poder” fazer as coisas, mas é ter o “poder” sobre as coisas. Talvez seja o reflexo bíblico do “Fiat – Faça-se”. Faça-se a luz; faça-se o firmamento; faça-se a noite; faça-se a terra; faça-se o mar. E assim, o homem sentindo inveja de Deus, resolveu tornar-se um deus. Foi inventando formas de exercer sua “onipotência”. Foi criando formas de se prevalecer. Assim, exercitar o mando. O Poder é uma obstinação. Parece ser mais necessário que a própria vida. Por ele, às vezes, a perde. Uma verdadeira síndrome.

Dentre os incontáveis tipos de Poder, achei um bastante interessante: o Poder das Barricadas. Inclusive é nome de livro de Tariq Ali. Fazendo analogia ao livro, flagro-me numa dispersão metafórica um tanto desvirtuada, mas adequada. Barricada é resistência. É contrapor. É contestar. É insurreição. Então será que Poder das Barricadas é uma antítese? Resiste-se ao Poder. Contesta-se o Poder. Insurge-se contra o Poder. Logo o Poder das Barricadas é a negação do Poder. Ou pior, teríamos, então, a anarquia na definição ou niilismo. Se niilismo, nada que existe é absoluto. Por conseguinte, se desprovido de valor, sentido e utilidade, é uma redução ao nada. Logo se todo Poder tem o seu Despoder, ficamos no efêmero do mando ou comando. Então ele não existe, é uma simples atitude do intelecto para nos situarmos. É apenas, nada mais que isso, um sentimento de posse.

Se o Poder que temos, ou julgamos ter, é, simplesmente, um sentimento, o que leva as pessoas a pelejar por ele? É incompreensível. Por que não pelejamos pelo sentimento de esperança, de afeto, de solidariedade, de doação? A busca do Poder afasta as pessoas. Inimizades são estabelecidas. A sordidez é colocada na mesa. As máscaras caem. Como contraponto, talvez esse seja o maior ganho nas batalhas pelo Poder: conhecer o avesso das pessoas.


Ariquemes, 27/06/08

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