De certa feita,
Aparecida, menina moça e um pouco assanhada, perdeu-se na vida. Não resistindo
aos clamores hormonais, entregou-se ao Tõe do Zé Domingo. Nunca confirmara que
fora com ele, mas era o que o povo dizia.
Naquela época, menina perdida só
tinha um caminho: a zona de meretrício. Quase sempre, era encaminhada por um
parente ou por um padrinho que a entregava sob os cuidados da dona de um lupanar.
Aparecida gostava muito de minha avó. A velha Cristina sempre tinha um bom conselho. Era amiga de todos. A coitada da Aparecida, às vésperas, de se novo desígnio, fora visitar a avó Cristina. Despedir-se e pedir-lhe a benção.
A velha Cristina, pacientemente,
ouviu as queixas e as mágoas da Aparecida. Eram muitas. Afinal, era um castigo
muito grande, por tão pouco. Uma execração! Para ambas era impossível entender que a honra
da mulher tivesse residência fixa entre as pernas. Mas, às mulheres daquela
época não cabia discutir ou contestar. À Aparecida só restavam duas opções:
sumir no mundo ou acatar, resignadamente, a decisão daquela sociedade rural machista
e desumana. O mundo dela era muito pequeno para se esconder. Seu mundo pouco
ultrapassava a cerca da pequenina propriedade rural de seu pai.
Depois de muito ouvir, a avó
Cristina, pensativa e com lágrimas nos olhos, tomando, entre as suas, as mãos mal
cuidadas de Aparecida, saiu com essa:
- Minha
filha, isto não é o fim. Pode ser até um começo. Pois uma bunda, se bem
administrada e gerenciada, dá mais lucro que morar na roça.
* * *
Martins
13/0214