domingo, 20 de junho de 2010

É de cair o cu da bunda!

         

          A Lei da Ficha Limpa vai promover o expurgo dos políticos desonestos? Sinceramente, quase nada vai mudar. Apenas alguns políticos mais desavisados, talvez mais imprudentes ou mais burros, é que serão pegos nesta rede de malha grossa. Em suma, teremos uma merreca de condenados inelegíveis, pois a grande maioria consegue se safar durante as fases processuais, quando há abertura de processo. A quase globalidade das safadezas passa a vau dos procedimentos judiciais. Na política não há gatunagem explícita, há, sim, alguém que facilita e alguém que leva vantagem. Há um corruptor e um corrupto. Ambos mantêm um cordão umbilical de cumplicidade, portanto, raramente esta parceria se desemboca num sinistro de percurso.

          Plagiando meu amigo coromandelense João Martins, esta Lei, na verdade, fará com que os maus políticos sofistiquem seus procedimentos. Irão aprimorar o modus operandi, o modus faciendi. Serão mais cuidadosos, mais prudentes. Assumirão, com mais ênfase, atitudes de paladinos da honestidade. Farão discursos empolgantes, auto nomeando-se bastiões de todas as virtudes. Defenestrarão os corruptos. Aperfeiçoarão a camuflagem e as redes de proteção.

          A proposição da Lei da Ficha Limpa é de iniciativa popular. Este tipo de Projeto de Lei requer a apresentação de abaixo-assinado à Câmara de Deputados, subscrito por, no mínimo, 1% do eleitorado nacional, o que significa dizer que serão necessárias cerca de 1.350.000 assinaturas, já que nosso eleitorado gira em torno de 135 milhões de votantes. É um contra-senso abissal, pois qualquer Deputadozinho, eleito com uma “meia dúzia” de votos e com mais uma coleta de realmente “meia dúzia” de assinaturas de outros parlamentares consegue emplacar projetos inúteis à população. É um absurdo! Como dizem meus amigos potiguares, “é de cair o cu da bunda!”.

          Por outro lado, talvez tenhamos descoberto a roda. Talvez esse Projeto, agora Lei, de iniciativa popular tenha sensibilizado nossos políticos e o judiciário, mostrando que o povo tem uma arma poderosa que poderá, doravante, ser utilizada com assiduidade. Então, não seria esse o caminho: o povo? Temos a força e não a usamos? Não seria o povo nas ruas e não seriam as assinaturas deste mesmo povo o catalisador dessa reação? É o óbvio, somente o povo nas ruas é capaz de acabar com a corrupção, com as benesses imorais, com o empreguismo, com o nepotismo, com o sobrepreço, com as pensões e aposentadorias extemporâneas, com as legislações em causa própria, com a vergonhosa imunidade, com as vendas de sentenças, etc...

          Dias atrás foi divulgado pela imprensa que um Tribunal de Contas Estadual condenou uma Prefeitura por nepotismo, onde, de acordo com a denúncia, três servidores ocupavam funções irregularmente: uma é a esposa do gerente de coordenação e planejamento, uma é filha do chefe do almoxarifado do município e um enfermeiro que ocupava função, segundo a denúncia, que deveria ser ocupada por um médico. Entendo que a condenação do Tribunal respeitou os princípios da moralidade na administração pública, mas, por outro lado, também foi divulgado que neste mesmo Tribunal existem mais de 20 servidores comissionados parentes do Presidente, de Conselheiros, de Magistrados, de Procuradores e de Desembargadores. É de cair o cu da bunda!!! Se é o povo quem escolhe seus representantes, por que o povo não pode escolher também quem julga as contas de seus representantes? Por acaso não é imoral os políticos escolherem e nomearem os conselheiros que irão julgar suas contas?

          Só o povo e, apenas, o povo, é que tem legitimidade para passar esse País a limpo. Câmaras de Vereadores, Prefeituras, Assembléias Legislativas, Governo Estadual, Congresso Nacional e Presidência da República são escolhidos pelo povo, então que esse povo exerça seu Poder de Gestão sobre estes entes, pois, afinal, é o povo que escolhe e quem paga. Espero e torço para que o povo ganhe gosto por iniciativas do cunho da Ficha Limpa. Somente o Poder das Ruas é que poderá aprimorar e perpetuar os objetivos da Ficha Limpa.


Martins
19/06/10

domingo, 6 de junho de 2010

Meus Neurônios Profetizaram

Há poucos dias assisti a um programa interessante no History Channel. Foi uma tentativa de trazer à baila e decifrar algumas profecias de Nostradamus, dos Incas e de uma pitonisa, cujo nome já nem mais me lembro. O programa versava, mais especificamente, sobre o fim dos tempos. Segundo os oráculos, o ano de 2012 chegará, mas não passará.

Dada a minha situação de quase absoluta inatividade física (não sei por quais cargas d’água, mas todo aposentado acha que cama e rede são sinônimas de aposentadoria), resta-me apenas tentar exercer uma gestão sobre minhas atividades mentais, que são, por natureza, indomáveis. Tenho a impressão que meus neurônios se robustecem a cada dia. O tônus neuronal está invejável. Há momentos em que chego a acreditar que não estão muito longe da excelência. Sinto-os permanentemente azeitados. Estão, realmente, me surpreendendo. Mais ainda, quer me parecer que eles geraram um outro eu dentro do meu eu. Seria um alter ego?

Após o dito programa profético, eles, meus neurônios, me apresentaram algumas conclusões estarrecedoras e quase chegaram a me convencer. De verdade, ainda carrego algumas dúvidas. Apresentaram-me uma teoria, não revolucionária, mas razoavelmente aceitável, cuja conclusão é a concordância com as profecias. Concluíram e tentaram me provar que realmente o mundo começará a findar em 2012. Estão se transformando, meus neurônios, é claro, em verdadeiros cenaristas.

Segundo eles, os Bancos americanos, europeus e asiáticos, ao divulgarem seus balanços em março e abril deste ano, tentarão camuflar seus prejuízos astronômicos, mas não conseguirão. Pelo contrário, esta tentativa aprofundará mais ainda a insegurança financeira mundial. Os Governos tentarão garantir os passivos bancários, mas as reservas monetárias irão, aos poucos, se tornando insuficientes. Os Governos se transformarão em monte socorro. Estatizações estarão na ordem do dia. A ingerência dos Governos nos mercados será absoluta. A desconfiança dos investidores, aplicadores e depositantes nos Bancos chegará a patamares insuportáveis. A quebradeira bancária se generalizará. Os processos produtivos vão se esvair paulatinamente. O comércio entre as nações sofrerá mudanças bruscas. Tentarão, até mesmo, o escambo, pois o dinheiro irá perder constantemente seu valor. O desemprego grassará. A segurança do cidadão deixará de existir. Será cada um pra si. Os países produtores de petróleo, dada a falta de pagamento e de dinheiro, reduzirão aos poucos sua produção. Teremos uma crise energética monstruosa. A produção de alimentos será insuficiente para matar a fome. Por três longos anos a humanidade buscará soluções e não as achará. Aí, então, os países poderosos tentarão se prevalecer. China, Rússia, Índia, Estados Unidos e Europa utilizarão todos meios para garantirem a sobrevivência de suas populações. Oriente Médio, África e América Latina serão seus alvos. Entre esses blocos serão gerados conflitos de interesses. Serão belicosos. Energia e alimento serão as necessidades maiores. Será o início da catástrofe final. As hordas varrerão o mundo. Voltaremos à época dos grandes conquistadores. Enfim, a fome, as pestes e as guerras, em menos de uma década, reduzirão a humanidade em pó.

Meus neurônios estão mesmo apocalípticos. Não ouso refreá-los. Afinal o maior dom que recebemos, segundo meus critérios, é a liberdade. O livre arbítrio é, talvez, o viés maior desse dom. Eles passaram uma vida meio que castrados. A eles foram impostas muitas regras. Mesmo contrariados, sempre foram obedientes. Então, que eles trabalhem agora por conta própria. Nada de amarras. Que naveguem sem âncoras pelo mar do imaginável e do inimaginável! Liberdade, mesmo que tardia!

Ah! Um tanto quanto meio abusados, profetizam, ainda, que Lula e Carlos Minc, do Meio Ambiente, após a eleição de 2010, serão queimados vivos em praça pública. O fogo será ateado com as páginas dos Decretos 6.514 de 22/07/08 e 6.686 de 10/12/08. Esses meus neurônios!!!

Martins
17/02/09

sábado, 5 de junho de 2010

Sinfonia e Melodia ou Dualismo e Dicotomia

É interessante como, às vezes, pequenas coisas nos remetem a elucubrações antes impensadas. Algo eminentemente corriqueiro age como um botão para ativar ou ligar um pensamento. Dias atrás, deparei-me com mensagem pessoal de uma amiga na internet: “A mais perfeita sintonia, a mais estranha melodia”. Se complementada, “Dois lados de uma mesma história e uma pergunta sem resposta”, teríamos a estrofe completa do pensamento do poeta.

Defino eu que todo poeta é também um filósofo. Não acho a recíproca verdadeira. Como não sou doutor no assunto, nem em poesia e nem em filosofia, tenho a liberdade de definir ao meu bel prazer. Não devo satisfações a nenhuma organização responsável pelas definições. Defino como quero e pronto! Mas, voltando à essência, a estrofe do poeta me fez parar para pensar. Ela é dualística ou dicotômica? Pesquisei à beça. Não cheguei a nenhuma conclusão satisfatória. Ao final, pouco me importaram os devaneios de Aristóteles, Sócrates, Descartes ou mesmo de Thomas Hyde. Preferi a definição dualística do poeta, que a dos filósofos:

Dualismo

Rosa De Saron

Tudo passa e os dias se estendem
Esperanças correm pelo chão
Dualismo eterno em nossa mente
O certo e o errado, o sim e o não

Atrás de tudo há sempre uma outra visão
Um beco estreito ou um vale numa imensidão
Um choro fraco mostra um momento de dor
Ou muitas vezes a esperança de um grande amor

Sentimentos fortes se misturam
As certezas perdem a razão
Nossos olhos falam mil palavras
E frases nunca mostram o coração

Virar a face para muitos é sair do chão
E que ser forte é fazer justiça com as mãos
Mas há loucuras que não esqueci jamais
Que compaixão, perdão me trouxe a paz

Do que é Deus
Poucos vêem
Pra viver
Pense nesse caos também

Opostos que se intercalam
Para sempre coexistirão
Geralmente é a dor que nos ensina
Que o momento bom não é em vão

Por muito tempo só admitia o sim
Mas foi o não que trouxe
Forças pra junto de mim
Eu vou sair do chão, pois não quero mais
A razão de frases feitas, que não satisfaz

A beleza da vida reside nessas angustiantes dicotomias e na nossa dualidade. Somos bons e maus. Bonitos e feios. Ternos e brutos. Amamos e odiamos. Somos opostos de nós mesmos. Podemos chorar hoje, rir amanhã. Podemos querer sal grosso hoje e travesseiro amanhã. No fundo, nossos pensamentos pululam de questionamentos. Quase sempre, sem respostas. Se não as temos, vamos procurá-las. A curiosidade e a sede de saber são combustíveis indispensáveis. Interrogações são pontos de partida. Respostas são de chegada. Somos lados de uma mesma moeda. Às vezes escondemos um ou ambos. A sintonia nem sempre é perfeita, mas a melodia não pode ser estranha. Que haja ruídos na sintonia, mas que a melodia seja ouvida. Que seus acordes sejam sinfônicos, pois nós somos eternos merecedores do melhor de nós mesmos.

Martins
01/11/08


Veni, Vidi, Vinci

A exemplo de Júlio César, em mensagem enviada ao Senado Romano, ouso, de forma altaneira, repetir: “veni, vidi, vinci!”. A roça eu a deixei aos 8 anos. Aos 55 retornei.

Lá na roça fui alfabetizado. Meu pai, o velho Juca, foi o meu mestre. Amante dos livros, deixou-me esta herança. Auxiliado pela palmatória, com ele o analfabetismo não tinha nenhuma chance. Para ele, forjado nas fileiras da Força Pública do Estado de São Paulo, a cidadania era imprescindível. Na escola, segundo ele, era primordial aprender Língua Pátria, Aritmética, História e Geografia. Saber falar, saber contar, conhecer a própria história e se localizar. Era um seguidor implacável das regras e de mandamentos. Não admitia erros e desvios. Tudo tinha que ser perfeito e planejado. Acho que descobriu a Qualidade Total antes dos nipônicos. Fez de seus conhecimentos e da lisura de seus procedimentos o seu marketing pessoal. Seu nome era seu maior bem. Minha mãe foi a coadjuvante perfeita na formação do caráter dos filhos. Exigente e dura. Tenaz e resistente. Embora diferentes no ser, eram idênticos no exigir.

Com 8 anos fui para a cidade. Queria ser doutor, mas aos 11 fui parar num Seminário. Da Admissão ao Científico. Aprendi o viver em comunidade. Ser disciplinado e responsável. Apanhei gosto pelos estudos. Em nossa primeira aula de grego, Mário Bonotti, antes mesmo dos cumprimentos formais, escreveu na lousa, “Paidéia trofé psiché estin” – “ A educação é o alimento da alma”. Fiz desta frase um princípio de vida.

Deixei o Seminário. Voltei para o mundo. Para o velho Juca, 16 anos eram maioridade. Logo tive que trabalhar para sobreviver. Primeiro, vendedor em domicílio de ebulidor elétrico, depois cobrador da Sociedade de São Vicente de Paula, cobrador da Farmácia Canaã, balconista da Drogamil, professor de História, professor de Química. Nas horas vagas era jogador do Tupy ou Mamoré. Fui bancando, assim, a vida e Faculdade. Tranquei matrícula e fui para a UNB. Em Brasília fui cronometrista de propaganda na TV e depois motorista de madame. Batia uma bola no CEUB. Ali me fizeram proposta para ir para o Clube Rio Negro de Manaus. Mas a fome e a falta de adaptação interromperam meu curso de Química. Voltei pra terrinha, terminei minha graduação e fui ser professor de Química e Físico-Química. Especializei-me. Ganhei fama. Ganhei até uma aluna. Com ela foram três filhos maravilhosos. Nayara é turismóloga; Thiago já é engenheiro mecânico, especializado em aviação; Camila é Mestra em Zootecnia.

Deixei a docência e transformei-me em bancário. Escriturário, caixa, gerente, inspetor, auditor, superintendente. Depois de 22 anos de Banco fui para o Congresso. Trabalhei com Arthur Virgílio, Salomão Cruz e Confúcio Moura. Informalmente assessorava Sérgio Carvalho, Luís Fernando, Alceste Almeida, Carlos Batata, Mozarildo e outros. Em 2005 vim com o Confúcio para Ariquemes. Em 2006 cumpri meu tempo para aposentadoria.

Então retornei à roça. Viver no campo e voltar a sentir o lento caminhar das coisas. Aqui impera a perfeição. Cada coisa tem o seu tempo e seu ritmo. Aqui prevalece o inexorável. Aqui tudo é justo. Privilégios não existem. O que tem que ser, será. É aqui que quero curtir o passado. Relembrar as batalhas. As que venci e as que perdi. Relembrar por relembrar. Voltar a ler “De Bello Gálico”, Platão e Ovídio. Manuel Bandeira e Carlos Drumond, Machado e Rui. Aqui quero revitalizar o meu eu. Dar-lhe um trato. Aqui ainda não é minha Pasárgada. “O que não tenho e desejo, é que melhor me enriquece”, dizia Bandeira. Sim, talvez seja isto. Somar ao que tive e ao que realizei o que ainda não tenho e desejo. Assim, não serei apenas rico, serei milionário.

Aqui ficarei apenas ao meu dispor. Eu serei minha prioridade. Como vou estar só, este meu egoísmo não fará mal a ninguém. Aqui sentirei, com alma de menino, o sol, o vento, a chuva, a noite e seu luar. Verei as plantas crescerem e os bichos nascerem como uma veneração à vida. Não mais me submeterei às insignificâncias da vida e às formalidades pedantes.

De certa feita, num réquiem à ignorância, despachei um documento a dois colegas sob à obtusa forma: “Submeto à apreciação das eminentes e impolutas inteligências, sob os auspícios de uma enorme carência de amparo e de auxílio, decorrentes da convicção plena e absoluta de confessa e de reconhecida incapacidade, até mesmo vernacular explanatória, sobre temas que, notoriamente, não fazem parte do meu feudo cognitivo...” Meu Deus, que horror! Viva a simplicidade!

Convicto que “Vim, Vi e Venci”, recolho-me. Recolho-me à simplicidade. Não fui nenhum Aníbal, apenas um roceiro metido à besta que saiu pelo mundo, sem moinhos a combater e sem a companhia de um Sancho Pança. Nem doutor e nem padre, mas feliz com as conquistas pessoais.


Martins
Ariquemes, 01/01/07